terça-feira, 27 de outubro de 2015

Antropomorfismos - Kalleb, o cão.


                Kalleb é um cachorro velho que vive sozinho numa casa que considera demasiada grande para ele, entretanto há muitos anos não põe a pata para fora das limitações de seu quintal. Trabalha produzindo relatórios dos dados que recebe, e  depois envia por email para uma empresa de porte consideravelmente grande.
Entre os litros de leite que bebe, entre as ajeitadas nos óculos e as paradas para morder o rabo, rapidamente seu dia passa e os relatórios ficam prontos, sempre com antecedência. Raramente recebe visitas, elas costumam se impressionar com a extravagância das cores de sua decoração, no entanto aos olhos de Kalleb, tudo era uma variação de cinza. 
Algumas vezes vai até o portão e observa a rua, mas sente-se incapaz de abri-lo, vê outros cães passando sempre acompanhados, seja de pessoas ou outros cães, "sabe-se que raramente um cão anda só", diz para si mesmo e logo sua ansiedade passa. Retorna para dentro de casa com a imagem da companheira que o abandonou, ela o castrou para não terem filhos, passeavam sempre juntos, depois dela nunca mais saiu, não entende por que o deixou, mas tenta sempre pensar nela de uma maneira positiva.

Afinal um cão de dez anos acredita que terá sorte se viver mais três, na sua conta já são setenta, esperava somente uma coisa: que após sua morte, ela voltasse para enterrá-lo.

Texto - Cadu Taveira.


domingo, 4 de outubro de 2015

Máquina do Antitempo.

Seria uma bolha ou capsula na qual um corpo imerso vaga, em transe e são na transição do espaço imaginário, buracos de minhoca que talvez sejam, em verdade, tubos do esgoto de acesso à privada vida enclausurada na cela concretizada pela distância e rebocada por cusparadas secas de uma boca que rogou pragas. Pregos são excelentes fixadores e resistem bem às marteladas firmes de uma mão bruta, de um corpo bruto, de uma tortura brutal e atravessam madeira ou punhos de profetas sem que os percebam como parte da grande história. Estacadas são mais importantes quando cravadas no coração das criaturas funestas, que se alimentam do sangue rubro da donzela virgem que escorre por entre as pernas. Pênis só importa em cópula e volúpia que se finde em gozo, o prazer é todo meu em conhecer a relatividade.



Carlos Eduardo Taveira.