segunda-feira, 27 de julho de 2015

A Poetisa e o Desamor

     Certa vez conheci uma aspirante a poetisa, seus olhos cortantes rasgavam minha alma, eram donos de um brilho tão belo que me fazia inseto, e eu, obviamente seguia na direção de sua luz, completamente cego.
     Com relação às minhas apetências, não havia o co-sentimento citado por Kundera, voltando ao traço do paralelo, a luz não se atrai pelo inseto.
     As últimas palavras que ouvi da aspirante a poetisa, foram terrivelmente belas, lembro-as melhor que quaisquer outras, ela disse: "Não posso lhe dar amor, mal posso, apenas lhe dar palavras e ainda assim, seriam tão murchas quanto flores mal cuidadas e secas".

Texto: Carlos Eduardo Taveira dos Santos




segunda-feira, 20 de julho de 2015

Retratos

As fotografias de verões anteriores faziam um belo papel na história de vida, formavam uma colcha de retalhos nostálgicos, em suma contentes. Janelas para o passado, ainda que muitas deixassem aquela parcela de vazio e preenchessem outros espaços com angustia e arrependimento... Ah, mesmo as puramente felizes, essas significavam saudade, o ser humano em sua complexidade pode ter inúmeras reações diante de determinado retrato. O fato é que dificilmente ele não se deixará levar pela tão falada nostalgia, a memória de outros dias, vista assim num quadro e não apenas em mente, acaba por estimular ao anacronismo psíquico. Olhar para si próprio no passado e ver-se jovem e alegre até que é bom, desde que esteja puramente satisfeito consigo e tenha o espírito leve perante todos os atos.

Texto: Carlos Eduardo Taveira.


segunda-feira, 6 de julho de 2015

Pseudo-tormento

Resolveu tomar o ônibus para facilitar o percurso que não estava disposto a transpor caminhando.
Sentia-se demasiadamente cansado.
O pensamento inerte sob um véu tênue. O tecido através do qual enxergava, era normalmente chamado de loucura. Não ocultava sua obstinação.
Entrou no ônibus atormentado, mas por sua própria realidade.
Havia inúmeras barreiras, como obstáculos de corrida de cavalos – estava em meio a inúmeros outros corredores que as saltavam em seus quadrúpedes, viu-se sem montaria.
No ônibus, o fato de estar lotado, era o que menos o infortunava, mas quando ouviu o grito daquela criança, não era choro, era uma palavra, ela gritava "legal", e aquela feição da mais pura felicidade sem por que, apenas porque também é da natureza humana, como uma substancialidade que vai se perdendo com o tempo.
Em meio a todo seu pseudo-tormento, aquela pura alegria ingênua, bem diante de seus olhos. Aquilo massacrou seu espírito.

Carlos Eduardo Taveira dos Santos.

O Pilar do Templo

Estou voltando no tempo
Transcendendo a existência
Estou saindo deste mundo
Buscando a minha essência

Eu estou vivo
Saindo do rol de zumbis
E estou rindo
Busco somente ser feliz

A noite está clara
Como é belo o luar
Que reflete luz do sol
E me faz enxergar
Após tudo virar treva
Decidi me separar

Eu não saí e nem sigo só
Vejo pilares caídos ao chão
Derrubados como dominós
Não atrapalham minha visão


Pois o que foi dito
Eram palavras ao vento
E tudo que foi feito
Insanidade de momento.

Carlos Eduardo Taveira dos Santos.


quinta-feira, 2 de julho de 2015

Existência Abstrata

Durante um breve minuto
Num momento de colapso
Um pensamento transitório
Vindo dos confins da mente
Dos confins da memória
Aos confins da história
Breve momento de reflexão
Instante de indignação
Um momento sem ação
Eterna dúvida sem explicação
Num olhar distante
Pensamento distante
E mundo distante
No raciocínio
Deste instante
A vida incessante
A morte insensata
A existência abstrata.


Carlos Eduardo Taveira dos Santos.